segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Porque nenhuma alegria é isenta de pesares.

Onde fui amarrar meu burrinho?

Por Christina

Desde criança sempre quis ser mãe. Sempre achei lindo mulher grávida, enorme, barriguda, andando feito pato de pernas abertas. Sempre achei que ser mãe era meu (único?) dom na vida. Na adolescência me vi um tiquinho mais egoísta "filho? tá doido? não suporto criança chorando!", mas logo a vida voltou ao normal e numa discussão com um (ex) namorado, cheguei a conclusão de que esse é o único propósito da vida do ser humano: procriar, parir, encher o mundo de herdeiro.
Abre parênteses:
Não, não acho que gerar e parir uma criança seja mais importante do que criar uma criança. Tiro meu chapéu para os pais adotivos que criam seus filhos muitíssimo bem. Muitos pais biológicos não chegam aos pés de certos pais adotivos. Mas a questão aqui é que sempre fui louca pra ter aquele barrigão gigante e andar feito uma pata.
Fecha parênteses.
O tempo passa, o tempo voa, o namorado muda, a pessoa muda de país e volta a ser estudante aos 28 anos. Relógio biológico já em funcionamento. Namorado gringo, diferenças culturais gritantes, que tempinho bunda esse da Inglaterra, vamos morar juntos, vamos pra uma casa melhor.
O plano era casar, comprar casa, ter filho, nesta ordem. Tinha o sonho de ganhar na loteria, mas não depende da gente. Na vida real, o que aconteceu foi que engravidei, depois casei mega barriguda (tipo um mês antes de parir), ao mesmo tempo que compramos a casa. A mudança foi feita entre o parto e o pós-parto. Lindo, tudo lindo. Gravidez maravilhosa, a barriga cresceu no último mês e ficou enoooorme, o cabelo ficou brilhoso, o humor nunca esteve tão bom, dormia o final de semana inteiro, conseguia dormir de bruços (isso, de barriga pra baixo, como eu gosto!), a vida era a linda e eu amei aquele estado - cheguei a dizer pros gays (todos tão lindos) lá do trabalho que topava ser barriga de aluguel, de tanto que amei estar grávida. Amei o parto também, apesar dos pesares. Saí querendo mais.
Mas depois da gravidez fantástica, do parto legal, o que acontece? Cadê a barriga redonda e linda? Cadê os paparicos? Cadê os finais de semana de sono profundo? Ninguem me preparou para o que estava por vir. Parir foi mole - dói sim, mas foi ótimo; amamentar foi divino - é difícil sim, mas uma experiência única; mas ter um serzinho dependente de você, que não curte dormir como você curte, que não vem com manual de instruções e que não tem botão liga-desliga (como assim, produção?!?!).
E quando você nao tem família perto pra dar uma força, pra segurar a onda por duas horinhas enquanto você dorme? E quando a família vem de longe e fica hospedada na sua casa, 24 horas por dia, 7 dias na semana (7 não, 14, às vezes 30!)? E quando a família que vem para o nascimento e as primeiras semanas de vida da sua filha não é a sua, não fala a sua língua e quer dar o primeiro banho (e todos os subsequentes), trocar as fraldas, etc? E quando - prestem muita atenção agora - seus hormônios, que foram tão legais com você durante a gravidez, te sacaneiam feio no pós-parto e você acaba em depressão e tomando anti-depressivo?
Resumo da ópera: ser mãe não é o mar de rosas que eu sonhava que seria - é, de longe, uma das coisas mais difíceis que já fiz na vida, mais imprevisíveis, mais cansativas e emocionalmente desgastantes. Já passei por muitas coisas na vida mas essa é a que mais me sugou, me consumiu. Educar uma criança é tarefa muito séria e complexa. Vai ficando mais e mais difícil. Tem todas as doenças, os dentes que nascem e trazem diarréia, febre e muita dor juntos, a fase dos terrible twos (que pode durar até 3 anos), a descoberta e o vício do chocolate, e por aí vai. E olha que não sou nem uma expert no assunto; só tenho uma filha e ela só tem 2 anos.
Estou arrependida? Está maluca?! Nunca! Faria tudo de novo, mil vezes. Minha filha é linda demais, gostosa demais, feliz demais. Olho pra ela e tenho a certeza de que sou uma ótima mae: ela é saudável, faladeira, esperta, feliz - tão feliz. O trabalho compensa. Posso estar exausta, mal humorada, com raiva do mundo, mas toda santa noite, pelo menos uma vez, vou no quarto dela admirá-la no sono, beijar o pezinho descoberto, cheirar a cabecinha, olhar cada detalhe do rostinho bochechudo dela.
Mas (sempre tem um "mas", né?), se antes eu achava que eram doidos os casais que optavam por não ter filhos, hoje em dia entendo perfeitamente a opção, e apóio a decisão.
Acho que, às vezes, eu queria era ter um clone - um com filho e outro sem. Pra viver o melhor dos dois mundos.

Christina é mãe de uma, queria ter quatro filhos mas agora não sabe se terá mais que dois. Nas horas vagas, também é esposa, trabalha expediente integral, é escrava do lar e escreve bobagens em inglês aqui e em português aqui.

Fonte: http://minhamaequedisse.com/

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