sábado, 25 de maio de 2013

A despensa

Uma vez, não me lembro bem quando, talvez há uns 10 anos, meu pai ficou desempregado e precisamos nos virar nos 30, sabe como é né? Escola particular e curso de inglês com boletas para vencer e proprietários que não estavam nem um pouco preocupados com nossos problemas momentâneos. E daí? O que você tem a ver com isso também, né? O que eu quero dizer, começa mais ou menos assim: Nessa época, só quem esteve do nosso lado para amparar, foi nossa família, a primeira, a de sangue, e a segunda, que escolhemos ou que nos escolheram. Mesmo, sei lá, com 400 amigos no MSN ou 800 no Orkut, ninguém fez nada por nós, algumas poucas pessoas ainda tiveram a sensibilidade de afirmar “qualquer coisa, estou aqui”, mas a verdade bem verdadeira é que elas não podiam fazer nada, os laços delas conosco, na maioria das vezes, não passam de uma forma de acabar com nossa carência por mídias sociais, não passam de curtidas ou compartilhamentos, é só isso, e é pra ser assim. Até porque imagina ter, no mundo real, 484 amigos? São 484 aniversários para ir, 484 bodas, imagina, com toda a força da sua imaginação ter que, toda vez que fizer uma festa, ter que reservar um espaço para, NO MÍNIMO, 484 pessoas. Imagina, então, ter 484 pessoas para consolar em momentos ruins ou para comemorar junto, em momentos felizes, ou até mesmo ter que contar para 484 pessoas que recebeu uma promoção ou que sua vó faleceu? Felizmente, nós não queremos isso, porque isso nos faria deixar de sermos nós, afinal, quando teríamos tempo para gastar atoa no shopping ou em casa mesmo? Estaríamos mais preocupados com o que dar de presente ou com que roupa ir ao evento do amigo do que em criar nossa própria identidade, nosso próprio caminho. Então, não temos porque exigir dos nossos amiguinhos de Face mais do que serem amiguinhos de Face, ou de twitter, ou de qualquer outra coisa do tipo. Nós sabemos quem podemos contar, quem está na nossa vida, de verdade, para sempre ou por um momento, mas quem está lá, enxugando as lágrimas, fazendo um brinde ou apenas indo para a noitada. Existe, sim, um tipo de amigo para cada situação, e alguns poucos que estão em todas as situações, esses são raros. Não nos deixemos levar pela banalidade do virtual. Nem sempre, quem não te ligou no seu aniversário não te quer bem, mas, muitas vezes, quem te deu os melhores parabéns, pessoalmente, não se importa tanto com você. A vida nada mais é que uma imensa despensa de cozinha, e se, por um descuido, não passamos os produtos antigos para frente e os novos para trás, corremos o sério risco de perder a validade de algum deles. A dica é: conserve amigos velhos e bons, virtuais ou não.



segunda-feira, 20 de maio de 2013

Felicidade.


São Gonçalo, 19 de Outubro de 2012.

É difícil remar contra a maré. É difícil tomar decisões. É difícil amar sem ser amado. Ninguém disse que seria fácil. Colocaram-te aqui sem você pedir e ainda te falaram o tempo todo que você tem que segurar a onda. Mandam-te engolir o choro mesmo que não saibam o quanto dói. Dividiram o seu tempo em proporções que você não deve tentar entender, apenas aceite. Aceite que você vai trabalhar sua vida inteira para garantir uma aposentadoria e de repente já não estará mais aqui para aproveitá-la. Aceite que por mais que você trabalhe arduamente, sem puxar o saco de ninguém você não sai do zero a zero. Aceite que você juntará cada centavo para comprar uma casa e, mesmo assim, terá que pagar imposto ao governo pelo simples fato de tê-la. Vão te mandar aceitar, vão te mandar calar, vão te mandar não agir. A verdade é que sempre vai ter alguém para te mandar fazer alguma coisa. A verdade é que você não tem opção. A verdade é que a única coisa que você tem a fazer é ignorar essas verdades todas. A felicidade não é um momento, não é uma pessoa, nem uma sorte. A felicidade é uma simples escolha. E como eu gosto de escolhas simples, vou dificultar pra quê?

sábado, 11 de maio de 2013

Acordar o quê?


E o que é acordar poema afinal? É acordar com o canto dos pássaros, em meio a uma vasta área verde? Posso acordar poema no centro do caos urbano, com trilha sonora de buzinas de ônibus e vista para fios de rede elétrica. Posso acordar poema com o som do vizinho ouvindo um rap americano, na última altura. Para acordar poema, depende apenas do meu estado de espírito, depende se a noite anterior foi muito boa ou se o dia que se segue terá boas sensações. Depende, talvez, se eu tive um sonho bom pela noite ou um pensamento bom pela amanhã. Depende também de como eu levo a vida, se fujo dos problemas ou se os encaro de frente. Acordar poema não é como dormir bem ou dormir mal, é uma questão de escolha. E a minha escolha é acordar poema, todos os dias.